Uma pessoa lidando com a sua própria potência é uma pessoa que segura nas mãos a essência do mundo.
Por isso, não adianta rezar. Mas, é bom rezar. Porque é fazer uma súplica para que a própria liberdade se veja como parte da ordem do mundo. Um mundo em que o senso de descoberta clariceano e de todas as outras pessoas que existiram e existem pudessem se orientar por um pensamento de verdade e de pertencimento.
Pertencer é também tomar conta, mais do que de si próprio. E pertencer, é trabalhar até dormindo. Esta, talvez, seja uma forma de entender mais do que o que se entende acordado.
Trabalhar também é ver que as coisas se criam e se entender como o que está se criando junto com as coisas. Também é um tipo de arte que precisa nascer por necessidade, como a escrita.
Não é sempre que se escrevem coisas necessárias. E não é sempre que se faz coisas necessárias, alinhadas com as necessidades do mundo. Por isso, mundo é complexo e tentar compreendê-lo de uma forma amorosa exige ir no absoluto da morte e do rato, do amor e da dor. De forma não romântica.
Tomar conta do mundo exige não ter medo e preguiça. E estas são coisas tão humanas, que ultrapassar o que é humano é destruir a imagem séria de deus e saber brincar por bastante tempo, até esquecer do que se era e morrer para que a imagem do que se era não volte.
Morrer sem se distrair de brincar. Ter a habilidade de fazer os dois. Entrar em contato com uma realidade completamente nova, não sabendo mais as mesmas palavras, não se importando com elas e com os pensamentos, por não saber que eles existem.
Desracionalizar o mundo seria, talvez, um modo de estar pertencendo plenamente a ele. Sem precisar de nada, nem mais de tomar conta dele.
Essa parece ser uma ideia saudável e é urgente descobrir a sensação de estar saudável.