Foto: Amanda Tavares Venturoso.
Foto: Amanda Tavares Venturoso.

Tomar conta do mundo exige muita paciência

Uma pessoa lidando com a sua própria potência é uma pessoa que segura nas mãos a essência do mundo.

Por isso, não adianta rezar. Mas, é bom rezar. Porque é fazer uma súplica para que a própria liberdade se veja como parte da ordem do mundo. Um mundo em que o senso de descoberta clariceano e de todas as outras pessoas que existiram e existem pudessem se orientar por um pensamento de verdade e de pertencimento.

Imagem 1. Olhares e tentativas para um post quadrado. Autoria: Amanda Venturoso e Leonardo Medeiros.

Pertencer é também tomar conta, mais do que de si próprio. E pertencer, é trabalhar até dormindo. Esta, talvez, seja uma forma de entender mais do que o que se entende acordado.

Trabalhar também é ver que as coisas se criam e se entender como o que está se criando junto com as coisas. Também é um tipo de arte que precisa nascer por necessidade, como a escrita.

Imagem 2. “_Olha ela editada como ficou. Perfeita. Eu deixei umas luzes de fundo. Para aparecer as plantinhas. Hahaha”. Autoria: Amanda Venturoso.

Não é sempre que se escrevem coisas necessárias. E não é sempre que se faz coisas necessárias, alinhadas com as necessidades do mundo. Por isso, mundo é complexo e tentar compreendê-lo de uma forma amorosa exige ir no absoluto da morte e do rato, do amor e da dor. De forma não romântica.

Tomar conta do mundo exige não ter medo e preguiça. E estas são coisas tão humanas, que ultrapassar o que é humano é destruir a imagem séria de deus e saber brincar por bastante tempo, até esquecer do que se era e morrer para que a imagem do que se era não volte.

Morrer sem se distrair de brincar. Ter a habilidade de fazer os dois. Entrar em contato com uma realidade completamente nova, não sabendo mais as mesmas palavras, não se importando com elas e com os pensamentos, por não saber que eles existem.

Desracionalizar o mundo seria, talvez, um modo de estar pertencendo plenamente a ele. Sem precisar de nada, nem mais de tomar conta dele.

Imagem 3. Capa do single “Ein kurzer Augenblick” (Um breve momento), de Norman Dück. Escute.

Essa parece ser uma ideia saudável e é urgente descobrir a sensação de estar saudável.

Vídeo 1. “Essa pintura, se olhar bem, pode lembrar elementos do texto. Porque ela é recente, então faz parte desses pensamentos. Estava pensando numa cobra quando pintei ela. Mas, não tinha intenção nenhuma dela ser alguma coisa. E virou uma planta exótica, aberta pra cima que ao mesmo tempo parece a boca de uma cobra. E outros brotos de cobra nascendo. Ela não tem nada de especial vendo, mas é uma coisa íntima. Porque eu sinto um negócio esquisito quando olho pra ela. À noite fica perigosa, quando estou pegando no sono”. Autoria: Amanda Venturoso.

Amanda Venturoso

Filosofia e arte são as linhas que têm tecido a sua vida pessoal e profissional, e que têm exigido uma versão mais organizada e metódica de si mesma, mas sem excluir o caos característico da própria vida. Acredita muito no poder dos encontros e dos desencontros e na beleza das formas dos seres, principalmente quando postas em contraste com a luz. Formada em Filosofia pela PUC Campinas e Mestre em Educação pela mesma universidade. Atualmente professora na rede estadual de São Paulo.