(1)
HÁ DEUS
Meu verso é como uma reza…
Para um deus desacordado.
(2)
RETICÊNCIAS
O mal des poetas
é o rastro… Antes,
do precipício.
(3)
POEMINHO
Tinha um buraco
no meio do caminho.
Fui no mercadão
roubei 10kg de cominho.
Buraco ou pedra:
gosto bem temperadinho.
(4)
POLÍTICA LITERÁRIA
O poeta surdo (sem orelhas)
Discute com o poeta falastrão (com olheiras)
Qual dos dois tem a voz mais bela.
Enquanto isso o poeta cego
Enxerga suas cacas de nariz.
(5)
PRIMAVERA PERSISTE
Para Vilmar de Almeida Gomes
Mesmo com a mesa partida
a partilha do pão é seguida.
Abraços amputados silenciam,
mas não, a semente que floresce.
Brota uma corola em chamas,
contra o frio fumacento fétido.
Cá estamos, né não? É assim
que São Jorge dobra o dragão.